sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quando o bolsa Miami vai voltar?


Resultado de imagem para dolar libra euroimagem: filmfoto.com



Tirando os colecionadores, não conheço ninguém que tenha em casa, como reserva de valor, nenhuma moeda que não seja primeiramente Dólar, depois Euro ou Libra. Porque ninguém guarda em casa o rublo russo ou o peso argentino? Porque nossa moeda é o real e não o dólar? Porque os países da Europa ocidental agora usam o euro como moeda única? Porque a Inglaterra não usa o euro como moeda? Credibilidade é a primeira palavra que me vem. Ter sua própria moeda é importante para qualquer nação, porém ter uma moeda sem credibilidade dificulta muito nas transações internacionais. Todo pais que possui sua própria moeda, possui um Banco Central.

Banco Central é uma entidade independente ou ligada ao Estado cuja função é gerir a política econômica ou seja, garantir a estabilidade e o poder de compra da moeda de cada país e do sistema financeiro como um todo (wikipedia).

A moeda de qualquer país só tem relevância se for conversível. Isto quer dizer que nosso real só tem valor se pudermos trocá-lo por dólar no momento que quisermos. Esta operação é feita por casas de câmbio e bancos regulados pelo Banco Central do Brasil (BC). Todo nosso estoque de dólar é gerenciado pelo BC. Ele, portanto deve ter bastante dólar guardado para que sempre que quisermos comprar, exista a moeda disponível. Isto é o que se chama de reservas internacionais, ou também grosso modo de fundo soberano. Quando um investidor, que pode ser até um brasileiro, que possui dólares em bancos estrangeiros decide aplicar seu capital no Brasil, comprando uma empresa brasileira, uma casa de praia em Natal ou mesmo somente aplicar no tesouro direto, ele tem que vender estes dólares ao BC que converte em reais e fica com os respectivos dólares. Se um gringo comprar uma casa de praia com dólares, direto com o proprietário, esta transação é ilegal e os dois podem ir presos por isso. Possuir dólares em casa, guardado, é ilegal. Quando ao contrário, um investidor estrangeiro resolve vender um ativo no Brasil e levar de volta ao seu país os recursos, ele compra dólares junto ao BC e leva seus dólares para seu país. Se os investidores desconfiarem que o BC não tenha dólares suficientes para trocar, o país estará em apuros.
  
Nossa moeda é o real. O BC controla através do sistema bancário nacional, a quantidade de reais que circulam no país, regulando a impressão da nossa moeda. Como o BC sabe quantos reais existem circulando e quanto deve imprimir de reais a cada vez? Ora, sabemos que estamos vivendo um momento de crise fiscal, daí era só a presidente mandar o BC imprimir mais reais e acabava a crise. Os países mais confiáveis do mundo como os EUA, possuem BC independentes, isto é, não obedecem as ordens do executivo para cuidar de sua política monetária. O Brasil infelizmente não possui BC independente. Como ninguém é bobo, quando, os agentes econômicos percebem que o BC está imprimindo mais dinheiro que deveria, todos procuram subir seus preços para que seus produtos possam ficar mais caros em reais e assim se proteger. Os trabalhadores começam a fazer greve, pois percebem que seus rendimentos não estão mais comprando a mesma coisa que compravam antes. Sabe o nome disso: inflação. Os investidores estrangeiros também percebendo isto, só aceitam trocar seus dólares por mais reais, daí o dólar sobe. Sempre que percebemos a inflação subindo, uma das causas é a falta de credibilidade em relação à política monetária do BC, ou melhor, estão colocando mais reais na praça que deveriam.  

Bancos Centrais dos EUA, da Inglaterra e da União Europeia, são entidades que procuram independentemente dos governos que estão de plantão, resguardar o valor de suas respectivas moedas. Eles já fazem isto há muito tempo e de forma muito serena e competente. Por este motivo estas moedas possuem credibilidade na praça internacional. Este também é o motivo porque nós, e o mundo todo, só confiamos guardar dólar, euro ou libra. O caso da libra é interessante. Os ingleses com sua centenária credibilidade na libra esterlina, não tiveram coragem de arriscar abrir mão de sua moeda para entrar na aventura da criação do euro. Nestes dois últimos anos nós vivenciamos um pequeno, mas sensível abalo na credibilidade do euro com a crise da Grécia. Os ingleses talvez tenham razão. Porém os firmes alicerces da Alemanha estão garantindo a força do euro.

O uso do dólar como moeda de referência internacional é devido à credibilidade na hegemonia dos EUA como a mais poderosa nação do mundo. O uso da língua inglesa como referência para artigos em congressos internacionais e papéis em transações financeiras internacionais é pelo mesmo motivo que confiamos em comprar um bilhete para assistir ao mais novo lançamento de um filme dos estúdios de Hollywood. Poderemos gostar ou não dos ianques, porém sempre temos a certeza que o FED (como é conhecido o BC americano) está garantindo o valor do dólar pelo mundo afora, as vezes até com seus tanques. Lembra que já tivemos cruzeiro, cruzado, cruzeiro novo e real, corta zero, bota zero e nossa moeda vira uma piada. O dólar sempre foi e é dólar. Então porque nossa moeda não passa a ser dólar de uma vez? Para que isso acontecesse, teríamos que abrir mão de nossa soberania financeira e obedecer ao FED, não seríamos mais brasileiros e sim americanos. Este é o mesmo motivo porque não abandonamos de vez o português e passamos a falar logo inglês.

Na verdade não é necessário sermos americanos para termos uma moeda séria e confiável. Precisamos de início tornar nosso BC independente para evitarmos pedaladas malucas, eleitoreiras e malandragens corruptas. Falar assim é fácil, porém para termos um BC independente precisamos de uma sociedade que possa entender de política e economia e cobrar das autoridades uma moeda confiável.

Tivemos um período de euforia quando o real tinha um valor que nos permitia fazer compras em Miami e passearmos em Paris. O que aconteceu que hoje isso acabou? Primeiro tivemos uma redução do valor dos nossos produtos que vendemos ao exterior devido a uma crise externa que abalou a Europa e fez a China reduzir o seu crescimento. Essa redução fez com que menos dólares entrassem no país com nossas vendas externas. Os investidores preocupados com a crise passaram a retirar seus recursos do Brasil e guardar seus capitais em dólares nos EUA. Menos dólares ficando no BC. Sentindo esta crise se aproximando (2008), nosso BC deveria ter ajustado o valor da nossa moeda, reduzindo a quantidade de reais em circulação. Fez exatamente o contrário, passou a emitir reais e ampliou o crédito interno. A medida correta teria forçado o governo a reduzir os gastos de forma sistemática e manter o poder de compra da moeda, isto teria provocado uma redução na atividade econômica com reflexo no consumo e no emprego. Se estas medidas tivessem sido tomadas com responsabilidade, o sofrimento seria mais suave. Ao contrario, a ampliação do crédito provocou um aumento artificial momentâneo do consumo e através de mentiras e inflação em 2014, desacreditou a moeda. Ora, ninguém é bobo, logo depois das eleições, a verdade começou a aparecer e os agentes econômicos passaram a desconfiar da capacidade do BC de honrar a conversibilidade do real. Daí todo mundo passou a correr e comprar dólares e retirar o dinheiro do Brasil. As agências de classificação de risco rebaixaram logo o Brasil e nossa moeda virou lixo. Quando isso vai mudar? Quando o mundo voltar a acreditar que o BC terá credibilidade para garantir a conversibilidade da nossa moeda. Quem ainda confia neste governo? Nossa moeda é uma medida da seriedade dos nossos governantes.