Tirando os
colecionadores, não conheço ninguém que tenha em casa, como reserva de valor,
nenhuma moeda que não seja primeiramente Dólar, depois Euro ou Libra. Porque ninguém
guarda em casa o rublo russo ou o peso argentino? Porque nossa moeda é o real e
não o dólar? Porque os países da Europa ocidental agora usam o euro como moeda
única? Porque a Inglaterra não usa o euro como moeda? Credibilidade é a primeira palavra que me vem. Ter sua própria moeda
é importante para qualquer nação, porém ter uma moeda sem credibilidade
dificulta muito nas transações internacionais. Todo pais que possui sua própria
moeda, possui um Banco Central.
Banco Central é uma entidade independente ou ligada ao Estado
cuja função é gerir a política econômica ou seja, garantir a estabilidade e o poder de compra da moeda de cada país e do sistema financeiro como um todo (wikipedia).
A moeda de qualquer país
só tem relevância se for conversível. Isto quer dizer que nosso real só tem
valor se pudermos trocá-lo por dólar no momento que quisermos. Esta operação é
feita por casas de câmbio e bancos regulados pelo Banco Central do Brasil (BC).
Todo nosso estoque de dólar é gerenciado pelo BC. Ele, portanto deve ter
bastante dólar guardado para que sempre que quisermos comprar, exista a moeda disponível.
Isto é o que se chama de reservas internacionais, ou também grosso modo de
fundo soberano. Quando um investidor, que pode ser até um brasileiro, que
possui dólares em bancos estrangeiros decide aplicar seu capital no Brasil,
comprando uma empresa brasileira, uma casa de praia em Natal ou mesmo somente aplicar
no tesouro direto, ele tem que vender estes dólares ao BC que converte em reais
e fica com os respectivos dólares. Se um gringo comprar uma casa de praia com dólares,
direto com o proprietário, esta transação é ilegal e os dois podem ir presos
por isso. Possuir dólares em casa, guardado, é ilegal. Quando ao contrário, um
investidor estrangeiro resolve vender um ativo no Brasil e levar de volta ao
seu país os recursos, ele compra dólares junto ao BC e leva seus dólares para
seu país. Se os investidores desconfiarem que o BC não tenha dólares suficientes
para trocar, o país estará em apuros.
Nossa moeda é o real. O
BC controla através do sistema bancário nacional, a quantidade de reais que
circulam no país, regulando a impressão da nossa moeda. Como o BC sabe quantos
reais existem circulando e quanto deve imprimir de reais a cada vez? Ora, sabemos
que estamos vivendo um momento de crise fiscal, daí era só a presidente mandar
o BC imprimir mais reais e acabava a crise. Os países mais confiáveis do mundo
como os EUA, possuem BC independentes, isto é, não obedecem as ordens do
executivo para cuidar de sua política monetária. O Brasil infelizmente não possui
BC independente. Como ninguém é bobo, quando, os agentes econômicos percebem
que o BC está imprimindo mais dinheiro que deveria, todos procuram subir seus preços
para que seus produtos possam ficar mais caros em reais e assim se proteger. Os
trabalhadores começam a fazer greve, pois percebem que seus rendimentos não estão
mais comprando a mesma coisa que compravam antes. Sabe o nome disso: inflação. Os investidores estrangeiros
também percebendo isto, só aceitam trocar seus dólares por mais reais, daí o dólar
sobe. Sempre que percebemos a inflação subindo, uma das causas é a falta de
credibilidade em relação à política monetária do BC, ou melhor, estão colocando
mais reais na praça que deveriam.
Bancos Centrais dos
EUA, da Inglaterra e da União Europeia, são entidades que procuram
independentemente dos governos que estão de plantão, resguardar o valor de suas
respectivas moedas. Eles já fazem isto há muito tempo e de forma muito serena e
competente. Por este motivo estas moedas possuem credibilidade na praça internacional. Este também é o motivo porque
nós, e o mundo todo, só confiamos guardar dólar, euro ou libra. O caso da libra
é interessante. Os ingleses com sua centenária credibilidade na libra
esterlina, não tiveram coragem de arriscar abrir mão de sua moeda para entrar
na aventura da criação do euro. Nestes dois últimos anos nós vivenciamos um
pequeno, mas sensível abalo na credibilidade do euro com a crise da Grécia. Os
ingleses talvez tenham razão. Porém os firmes alicerces da Alemanha estão
garantindo a força do euro.
O uso do dólar como
moeda de referência internacional é devido à credibilidade na hegemonia dos EUA
como a mais poderosa nação do mundo. O uso da língua inglesa como referência
para artigos em congressos internacionais e papéis em transações financeiras
internacionais é pelo mesmo motivo que confiamos em comprar um bilhete para
assistir ao mais novo lançamento de um filme dos estúdios de Hollywood. Poderemos
gostar ou não dos ianques, porém sempre temos a certeza que o FED (como é
conhecido o BC americano) está garantindo o valor do dólar pelo mundo afora, as
vezes até com seus tanques. Lembra que já tivemos cruzeiro, cruzado, cruzeiro
novo e real, corta zero, bota zero e nossa moeda vira uma piada. O dólar sempre
foi e é dólar. Então porque nossa moeda não passa a ser dólar de uma vez? Para
que isso acontecesse, teríamos que abrir mão de nossa soberania financeira e
obedecer ao FED, não seríamos mais brasileiros e sim americanos. Este é o mesmo
motivo porque não abandonamos de vez o português e passamos a falar logo inglês.
Na verdade não é necessário
sermos americanos para termos uma moeda séria e confiável. Precisamos de início
tornar nosso BC independente para evitarmos pedaladas malucas, eleitoreiras e
malandragens corruptas. Falar assim é fácil, porém para termos um BC
independente precisamos de uma sociedade que possa entender de política e
economia e cobrar das autoridades uma moeda confiável.
Tivemos um período de
euforia quando o real tinha um valor que nos permitia fazer compras em Miami e
passearmos em Paris. O que aconteceu que hoje isso acabou? Primeiro tivemos uma
redução do valor dos nossos produtos que vendemos ao exterior devido a uma crise
externa que abalou a Europa e fez a China reduzir o seu crescimento. Essa redução
fez com que menos dólares entrassem no país com nossas vendas externas. Os
investidores preocupados com a crise passaram a retirar seus recursos do Brasil
e guardar seus capitais em dólares nos EUA. Menos dólares ficando no BC. Sentindo
esta crise se aproximando (2008), nosso BC deveria ter ajustado o valor da
nossa moeda, reduzindo a quantidade de reais em circulação. Fez exatamente o
contrário, passou a emitir reais e ampliou o crédito interno. A medida correta
teria forçado o governo a reduzir os gastos de forma sistemática e manter o
poder de compra da moeda, isto teria provocado uma redução na atividade econômica
com reflexo no consumo e no emprego. Se estas medidas tivessem sido tomadas com
responsabilidade, o sofrimento seria mais suave. Ao contrario, a ampliação do
crédito provocou um aumento artificial momentâneo do consumo e através de
mentiras e inflação em 2014, desacreditou a moeda. Ora, ninguém é bobo, logo
depois das eleições, a verdade começou a aparecer e os agentes econômicos passaram
a desconfiar da capacidade do BC de honrar a conversibilidade do real. Daí todo
mundo passou a correr e comprar dólares e retirar o dinheiro do Brasil. As agências
de classificação de risco rebaixaram logo o Brasil e nossa moeda virou lixo. Quando
isso vai mudar? Quando o mundo voltar a acreditar que o BC terá credibilidade
para garantir a conversibilidade da nossa moeda. Quem ainda confia neste
governo? Nossa moeda é uma medida da seriedade dos nossos governantes.