sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quando o bolsa Miami vai voltar?


Resultado de imagem para dolar libra euroimagem: filmfoto.com



Tirando os colecionadores, não conheço ninguém que tenha em casa, como reserva de valor, nenhuma moeda que não seja primeiramente Dólar, depois Euro ou Libra. Porque ninguém guarda em casa o rublo russo ou o peso argentino? Porque nossa moeda é o real e não o dólar? Porque os países da Europa ocidental agora usam o euro como moeda única? Porque a Inglaterra não usa o euro como moeda? Credibilidade é a primeira palavra que me vem. Ter sua própria moeda é importante para qualquer nação, porém ter uma moeda sem credibilidade dificulta muito nas transações internacionais. Todo pais que possui sua própria moeda, possui um Banco Central.

Banco Central é uma entidade independente ou ligada ao Estado cuja função é gerir a política econômica ou seja, garantir a estabilidade e o poder de compra da moeda de cada país e do sistema financeiro como um todo (wikipedia).

A moeda de qualquer país só tem relevância se for conversível. Isto quer dizer que nosso real só tem valor se pudermos trocá-lo por dólar no momento que quisermos. Esta operação é feita por casas de câmbio e bancos regulados pelo Banco Central do Brasil (BC). Todo nosso estoque de dólar é gerenciado pelo BC. Ele, portanto deve ter bastante dólar guardado para que sempre que quisermos comprar, exista a moeda disponível. Isto é o que se chama de reservas internacionais, ou também grosso modo de fundo soberano. Quando um investidor, que pode ser até um brasileiro, que possui dólares em bancos estrangeiros decide aplicar seu capital no Brasil, comprando uma empresa brasileira, uma casa de praia em Natal ou mesmo somente aplicar no tesouro direto, ele tem que vender estes dólares ao BC que converte em reais e fica com os respectivos dólares. Se um gringo comprar uma casa de praia com dólares, direto com o proprietário, esta transação é ilegal e os dois podem ir presos por isso. Possuir dólares em casa, guardado, é ilegal. Quando ao contrário, um investidor estrangeiro resolve vender um ativo no Brasil e levar de volta ao seu país os recursos, ele compra dólares junto ao BC e leva seus dólares para seu país. Se os investidores desconfiarem que o BC não tenha dólares suficientes para trocar, o país estará em apuros.
  
Nossa moeda é o real. O BC controla através do sistema bancário nacional, a quantidade de reais que circulam no país, regulando a impressão da nossa moeda. Como o BC sabe quantos reais existem circulando e quanto deve imprimir de reais a cada vez? Ora, sabemos que estamos vivendo um momento de crise fiscal, daí era só a presidente mandar o BC imprimir mais reais e acabava a crise. Os países mais confiáveis do mundo como os EUA, possuem BC independentes, isto é, não obedecem as ordens do executivo para cuidar de sua política monetária. O Brasil infelizmente não possui BC independente. Como ninguém é bobo, quando, os agentes econômicos percebem que o BC está imprimindo mais dinheiro que deveria, todos procuram subir seus preços para que seus produtos possam ficar mais caros em reais e assim se proteger. Os trabalhadores começam a fazer greve, pois percebem que seus rendimentos não estão mais comprando a mesma coisa que compravam antes. Sabe o nome disso: inflação. Os investidores estrangeiros também percebendo isto, só aceitam trocar seus dólares por mais reais, daí o dólar sobe. Sempre que percebemos a inflação subindo, uma das causas é a falta de credibilidade em relação à política monetária do BC, ou melhor, estão colocando mais reais na praça que deveriam.  

Bancos Centrais dos EUA, da Inglaterra e da União Europeia, são entidades que procuram independentemente dos governos que estão de plantão, resguardar o valor de suas respectivas moedas. Eles já fazem isto há muito tempo e de forma muito serena e competente. Por este motivo estas moedas possuem credibilidade na praça internacional. Este também é o motivo porque nós, e o mundo todo, só confiamos guardar dólar, euro ou libra. O caso da libra é interessante. Os ingleses com sua centenária credibilidade na libra esterlina, não tiveram coragem de arriscar abrir mão de sua moeda para entrar na aventura da criação do euro. Nestes dois últimos anos nós vivenciamos um pequeno, mas sensível abalo na credibilidade do euro com a crise da Grécia. Os ingleses talvez tenham razão. Porém os firmes alicerces da Alemanha estão garantindo a força do euro.

O uso do dólar como moeda de referência internacional é devido à credibilidade na hegemonia dos EUA como a mais poderosa nação do mundo. O uso da língua inglesa como referência para artigos em congressos internacionais e papéis em transações financeiras internacionais é pelo mesmo motivo que confiamos em comprar um bilhete para assistir ao mais novo lançamento de um filme dos estúdios de Hollywood. Poderemos gostar ou não dos ianques, porém sempre temos a certeza que o FED (como é conhecido o BC americano) está garantindo o valor do dólar pelo mundo afora, as vezes até com seus tanques. Lembra que já tivemos cruzeiro, cruzado, cruzeiro novo e real, corta zero, bota zero e nossa moeda vira uma piada. O dólar sempre foi e é dólar. Então porque nossa moeda não passa a ser dólar de uma vez? Para que isso acontecesse, teríamos que abrir mão de nossa soberania financeira e obedecer ao FED, não seríamos mais brasileiros e sim americanos. Este é o mesmo motivo porque não abandonamos de vez o português e passamos a falar logo inglês.

Na verdade não é necessário sermos americanos para termos uma moeda séria e confiável. Precisamos de início tornar nosso BC independente para evitarmos pedaladas malucas, eleitoreiras e malandragens corruptas. Falar assim é fácil, porém para termos um BC independente precisamos de uma sociedade que possa entender de política e economia e cobrar das autoridades uma moeda confiável.

Tivemos um período de euforia quando o real tinha um valor que nos permitia fazer compras em Miami e passearmos em Paris. O que aconteceu que hoje isso acabou? Primeiro tivemos uma redução do valor dos nossos produtos que vendemos ao exterior devido a uma crise externa que abalou a Europa e fez a China reduzir o seu crescimento. Essa redução fez com que menos dólares entrassem no país com nossas vendas externas. Os investidores preocupados com a crise passaram a retirar seus recursos do Brasil e guardar seus capitais em dólares nos EUA. Menos dólares ficando no BC. Sentindo esta crise se aproximando (2008), nosso BC deveria ter ajustado o valor da nossa moeda, reduzindo a quantidade de reais em circulação. Fez exatamente o contrário, passou a emitir reais e ampliou o crédito interno. A medida correta teria forçado o governo a reduzir os gastos de forma sistemática e manter o poder de compra da moeda, isto teria provocado uma redução na atividade econômica com reflexo no consumo e no emprego. Se estas medidas tivessem sido tomadas com responsabilidade, o sofrimento seria mais suave. Ao contrario, a ampliação do crédito provocou um aumento artificial momentâneo do consumo e através de mentiras e inflação em 2014, desacreditou a moeda. Ora, ninguém é bobo, logo depois das eleições, a verdade começou a aparecer e os agentes econômicos passaram a desconfiar da capacidade do BC de honrar a conversibilidade do real. Daí todo mundo passou a correr e comprar dólares e retirar o dinheiro do Brasil. As agências de classificação de risco rebaixaram logo o Brasil e nossa moeda virou lixo. Quando isso vai mudar? Quando o mundo voltar a acreditar que o BC terá credibilidade para garantir a conversibilidade da nossa moeda. Quem ainda confia neste governo? Nossa moeda é uma medida da seriedade dos nossos governantes.  

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O Capital
Thomas Piketty








Comentários de Rômulo Vilela
Recife, 20 de outubro de 2015 






Prá início de conversa
Desde o lançamento do revolucionário O Capital de Karl Max em 1867, não se via um livro tão impactante quando este do Doutor Piketty. A obra de Max criou idéias que se tornaram revolucionárias, mas esta obra que comentaremos a seguir utilizou dados reais de séries históricas importantes ao redor do planeta. É a estatística em auxílio a economia, trazendo dados reais  não apenas idéias como em Max.

O eixo central do livro, em minha opinião, trata da distribuição da riqueza e das desigualdades entre ricos e pobres.

O texto que apresento a seguir é um pequeno extrato do imenso livro (são 672 páginas) do Doutor Piketty. Não se trata de uma análise acadêmica do trabalho e sim frases retiradas do texto do livro que me chamaram atenção com pequenos comentários pessoais. Se você não leu o livro terá uma pequena amostra, e talvez fique motivado para ler o texto completo. Se já leu poderá dividir comigo suas impressões.

Vamos ao extrato do texto do Doutor Piketty. Meus comentários estão em itálico e negrito.


      
O Capital
Thomas Piketty
Tem que crescer
A tese central deste livro é que uma diferença que parece pequena entre a taxa de retorno do capital e a taxa de crescimento pode produzir, no longo prazo, efeitos muito potentes e desestabilizadores para a estrutura e a dinâmica da desigualdade numa sociedade 

Quando a taxa de remuneração do capital ultrapassa a taxa de crescimento da produção e da renda, como ocorreu no século XIX e parece provável que volte a ocorrer no século XXI, o capitalismo produz automaticamente desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os valores de meritocracia sobre os quais se fundão nossas sociedades democráticas.

A partir do momento em que o capital desempenha um papel útil no processo de produção, é natural que ele tenha um rendimento. E, a partir do momento em que o crescimento é baixo, é quase inevitável que esse rendimento do capital seja bem superior à taxa de crescimento, o que dá automaticamente uma importância desmedida às desigualdades patrimoniais vindas do passado.

Quando um país  tem dificuldades para crescer, a distância entre pobres e ricos aumenta, pois  economias de  baixo crescimento tendem a possuir taxas de remuneração em renda fixa muito altas e isso leva aos mais ricos que possuem dinheiro aplicado e patrimônio ficarem mais ricos. Por sinal é esta a situação que vivemos hoje no Brasil. Todo o trabalho que foi feito  de distribuição de renda nos últimos anos tenderá a desaparecer com  o retorno dos ganhos de capital nas alturas como está agora. Quem esta aplicando em renda fixa está ficando cada vez mais rico, e o pobre que não tem como poupar, vendo sua renda ser corroída pela inflação está ficando cada vez mais pobre.


O capitalismo é amoral
Quando se discute a distribuição da riqueza, a política está sempre por perto.

O problema é que o sistema de preços não conhece nem limites, nem moral.

A hierarquia da fortuna não se refere apenas ao dinheiro, ela é também um assunto que diz respeito aos valores e a moral, tanto para indivíduos como para países.

O discurso de Vautrin no livro de Balzac: o pai Goriot:
Afinal, se a desigualdade social é sempre imoral, injustificada, por que não testar o limite da imoralidade e se apropriar do capital por qualquer meio disponível?

A marcha em direção à racionalidade econômica e tecnológica não implica, necessariamente, uma marcha rumo à racionalidade democrática e a meritocracia. A razão central é simples: a tecnologia, assim como o mercado, não tem limite ou moral.

A racionalidade econômica e tecnológica nada tem a ver com a racionalidade democrática. A  democracia real e a justiça social exigem instituições específicas, que não são apenas as do mercado e também não podem ser reduzidas às instituições parlamentares e democráticas formais. 

Uma frase que cresci ouvindo é que "dinheiro não leva o nome do dono". Isto quer dizer que não existe moral no dinheiro em si. A moeda de um país é uma função valor que facilita as trocas de mercadoria, mas também quando seu possuidor tem muito, vira instrumento de poder. As regras da moral devem estar nas relações sociais, a forma de se ganhar e acumular dinheiro deve ser regulada pelas relações sociais. O enriquecimento ilícito é crime e deve ser punido como tal. Quando o Estado interfere no mercado definindo onde e como as empresas devem ganhar dinheiro, a política, outra instituição amoral, passa a criar corrupção financeira, e aí ganha mais quem tem mais força política, desaparece a meritocracia. Isto não regula e sim destrói o mercado. Desta forma o país deixa de crescer e os pobres sofrem mais.


E a mão invisível do mercado?
Não há motivo algum para acreditar que o crescimento tende a se equilibrar de forma automática.

A desigualdade não é necessariamente um mal em si: a questão central é decidir se ela se justifica e se há razões concretas para ela exista.

O crescimento econômico é incapaz de satisfazer as esperanças democráticas e meritocráticas, que deve se apoiar na existência de instituições específicas. 

Qual o papel do Estado nas democracias meritocráticas? Seria ingênuo achar que o capitalismo realmente possui uma função moral e ética de autorregulação que automaticamente reduzisse as desigualdades e promovesse a felicidade dos povos. Sem a interferência da sociedade as desigualdades só aumentarão. Porém regular para reduzir abusos não deve conferir ao Estado o papel de principal agente econômico nem o de pai dos pobres. O Estado superdimensionado só produz corrupção, e mais pobreza.



Qual o segredo do crescimento?
O processo de difusão de conhecimento e competências é o principal instrumento para aumentar a produtividade e ao mesmo tempo diminuir a desigualdade, trata-se, em essência, de um processo de difusão e partilha do conhecimento - o bem público por excelência - e não de um mecanismo de mercado.

...que basta garantir os direitos de propriedade e a livre operação dos mercados e enaltecer a concorrência "pura e perfeita " para se chegar a uma sociedade justa, próspera e harmoniosa. A tarefa, infelizmente, é mais complexa do que isso.

...as economias mais pobres diminuem o atraso em relação às mais ricas na medida em que conseguem alcançar o mesmo nível de conhecimento tecnológico, de qualificação da mão de obra, de educação,

A tecnologia moderna utiliza sempre muito capital, e a diversidade dos usos do capital leva a uma acumulação substancial sem que o rendimento afunde totalmente.

É o crescimento permanente da produtividade e da população que permite equilibrar a adição de novas unidades de capital.

Imagine que o capital tenha desaparecido, que teríamos passado de uma civilização fundada sobre o capital, sobre heranças e filiação, a outra baseada no capital humano e no mérito.

Todos os cidadãos deveriam se interessar com grande seriedade pelo dinheiro, por sua medida, pelos fatos e pelas evoluções que o rodeiam. Aqueles que possuem muito nunca se esquecem de defender seus interesses. Recusar-se a fazer contas raramente traz benefícios aos mais pobres. 

Me parece claro que o conhecimento e o mérito são as fórmulas claras para uma sociedade crescer com igualdade e harmonia. A política não pressupõe estes métodos. Políticos nunca são bons empresários, são sempre péssimos distribuidores de renda. Discutir aborto ou casamento gay é muito diferente de tratar de câmbio ou de derivativos. O paternalismo com os pobres sempre tem se tornado em ajuda aos amigos que são péssimos empresários e só sobrevivem ganhando no superfaturamento e nos pixulecos. A sociedade que valoriza o mérito e o conhecimento verdadeiramente ajuda aos mais pobres sem trocar com eles esmolas em forma de bolsas família  por votos.



O imposto
O papel principal do imposto sobre o capital não é financiar o Estado social, mas regular o capitalismo.

É importante compreender que o imposto é sempre mais do que um imposto: também é uma maneira de solidificar as definições e as categorias, produzir normas e permitir a organização da atividade econômica no que diz respeito ao direito e ao contexto jurídico.

As grandes funções soberanas do Estado moderno: polícia, justiça, exército, relações exteriores, manutenção geral. Tudo isso pode comprometer 7-8% da renda nacional.

A tributação não é somente uma maneira de fazer com que os indivíduos contribuam para o financiamento dos gastos públicos;... ela é útil, também, para identificar categorias e promover o conhecimento e a transparência democrática 

Um  governo que tende a arrecadar cada vez mais com desculpas que tem que salvar os necessitados, é mentiroso, incompetente e corrupto. Uma sociedade moderna permite que o governo arrecade uma pequena percentagem do PIB para fazer funcionar a máquina do Estado. Nesta sociedade o imposto é mais importante como mecanismo de conhecimento e transparência das atividades econômicas que como valor financeiro. Nada além de 10% do PIB considero saudável. Nosso pais hoje arrecada mais de 35% do PIB em impostos (g1.globo.com). Achando pouco estão querendo mais impostos. Isto sem considerar as empresas estatais e os bancos públicos alvos de pedaladas criminosas. Mais de 50% da nossa economia está na mão de políticos que são evidentemente incompetentes para cuidar do dinheiro do pais.


A importância do capital acumulado
As desigualdades devem considerar os três aspectos: da renda do trabalho; das heranças e os rendimentos do capital.

Se as taxas de crescimento da população e da produtividade forem relativamente baixas, o estoque acumulado de riqueza se torna, naturalmente, mais relevante com o passar do tempo.

Uma taxa de retorno anual de alguns pontos percentuais, acumulada ao longo de várias décadas, conduz automaticamente a uma expansão muito forte do capital inicial - contanto que os retornos sejam sempre reinvestidos ou ao menos que a parte consumida pelo detentor do capital não seja grande demais em comparação com a taxa de crescimento do país.

Um país que poupa muito e cresça lentamente acumula, no longo prazo, um enorme estoque de capital.

Nas sociedades em estagnação, os patrimônios do passado têm uma importância considerável.

Numa sociedade que enfrenta uma quase estagnação, a riqueza acumulada no passado ganha uma importância desmedida.

Uma redução do crescimento (demográfico e econômico) junto com um alto rendimento do capital (num contexto global de concorrência entre países), a herança ganhará uma importância como no século XIX. 

Ser rico não é somente ganhar muito dinheiro, é também possuir estoques de capital em movimento.  Costumo dizer que rico não é quem ganha muito dinheiro mas quem gasta pouco. A importância de se acumular capital é fundamental para a manutenção e crescimento da riqueza. Novamente o baixo crescimento favorece aqueles que possuem estoques de capital, tanto o que foi ganho como o que foi herdado. Guardar dinheiro é importante não somente para você como o é para seus filhos. Para o futuro dos seus filhos é melhor você guardar que deixar eles luxarem. O exemplo é importante mas não esquecer de ensinar o caminho da prosperidade.


Onde anda Karl Max?
Foi preciso chegar a meados do século XX para que as primeiras séries históricas sobre a distribuição de riqueza estivessem disponíveis, com a publicação em 1953 da obra de Kuznets.

Max rejeitou as hipóteses de que o progresso tecnológico pudesse ser duradouro e de que a produtividade fosse capaz de crescer de modo contínuo.

A propriedade privada e a economia de mercado não têm apenas a função de permitir que os detentores do capital dominem os trabalhadores. Essas instituições desempenham também um papel útil para coordenar as ações de milhões de indivíduos. (Este é o motivo da falha da supressão da propriedade privada:Max)

As fontes utilizadas neste livro: 
Séries de dados que lidam diretamente com a desigualdade e a distribuição de renda;
Séries de dados que lidam com a distribuição da riqueza e a relação entre riqueza e a renda.

Levando em conta que esses países (Ásia (exceto Japão), África e América do Sul), no total, representam pouco mais de um quinto do PIB mundial, o impacto sobre a razão capital/renda mundial é um tanto limitado.

No início do século XX, 1 libra esterlina valia em torno de 5 dólares, 20 marcos e 25 francos.

O que impede a reconstituição de uma sociedade de rentistas extrema como na França antes das guerras mundiais é  o arcabouço fiscal progressivo que incide sobre as rendas, o patrimônio e as heranças. 

O exaustivo estudo de dados feito pelo grupo de pesquisa do Doutor Piketty, representa ao meu ver o maior legado desta obra. Quando Max escreveu seu livro revolucionário, ele criou idéias importantes que vieram a ser debatidas durante décadas com ferozes lutas ideológicas, mas suas hipóteses não podiam ser verificadas por falta de dados. Neste livro um enorme banco de dados foi utilizado pela equipe de pesquisadores. Infelizmente o Brasil não foi citado devido em boa parte a inexistência de informações confiáveis e também devido ao desinteresse do país em fornecer informações, de acordo com a entrevista de Piketty ao Milenio da Globo News. 


As leis fundamentais
A equação  alpha = r x beta   é considerada a primeira lei fundamental do capitalismo, onde:
beta= relação capital/renda;
r= taxa de remuneração do capital;
alpha= participação do capital na renda. 

A segunda lei fundamental: 
beta= s/g onde:
beta=razão capital/renda 
s=taxa de poupança 
g=taxa de da renda

Nenhum mecanismo auto-corretivo impede que a alta contínua da relação capital/renda (beta), venha acompanhada de uma expansão permanente da participação do capital na renda nacional (alpha). 

Estas fórmulas são muito técnicas mas é importante conhecer o significado do beta. Esta relação nos mostra uma idéia do estoque de capital em relação a renda que este capital produz. Para um país poder crescer, é preciso a existência de um bom estoque de capitais. Na maioria das vezes estes capitais vem de diversos investidores na maioria internacionais. Os investidores porém só  investem, isto é deixam seus estoques num determinado país, se a remuneração deste capital for atraente e se o país for confiável. 
O alpha é a participação do capital na renda nacional, representa quanto a produção depende de estoques de capitais. Esta dependência pode nos mostrar quanto um país é vulnerável no seu crescimento, da existência de capitais estrangeiros. Tudo passa pela confiança, coisa escassa no nosso pais hoje. 
A segunda equação também ressalta a importância do beta, só que ligada a taxa de poupança. Aqui a lição volta para a importância do crescimento, pois uma baixa taxa de crescimento, aumenta a importância do capital  na formação da riqueza o que faz com que quem tem dinheiro se aproprie mais da riqueza e fique ainda mais rico e o trabalhador ainda mais pobre. A lição é terrível: sem crescimento não existe possibilidade de distribuição de renda. 


A análise da riqueza
A análise se baseia nos conceitos estatísticos: os 10% mais ricos, os 40% do meio e os 50% mais pobres.

Na Escandinávia :
o 1% dos assalariados mais bem remunerados ganha em média €10.000 por mês, os 9% seguintes ganham €3.300 por mês, enquanto os 10% mais bem remunerados ganham €4.000 por mês onde o salário médio é de €2.000 por mês. Os 40% do meio ganham em média €2.250 por mês e os outro 50% mais baixos €1.400 por mês.

Nos Estados Unidos:
10% do topo €7.000 por mês 
1% do topo €24.000 por mês 
40% do meio €2.000 por mês 
50% da base €1.000 por mês 

Capital acumulado Europa
50% da base: de €30 mil a €40 mil
40% do meio: €175 mil
10% topo €1,2 milhão 
9% €800 mil
1% €5 milhões 

Infelizmente não temos os dados do Brasil, mas de acordo com o Doutor Piketty, nos países como o nosso, a desigualdade é muito maior. Temos uma minoria de 1% de brasileiros ainda mais ricos que os americanos e britânicos. O bolsa família e os programas sociais do PT, não resolverão a enorme desigualdade se não houver crescimento econômico. E crescimento só vem com credibilidade, não vêm com pedaladas e mentiras.
Aproveite e faça uma simulação transformando seu salário e seu patrimônio em euros, hoje e dois anos atrás, compare sua posição com os países mostrados acima e veja como empobrecemos em menos de dois anos.


Algumas frases genéricas 
Capitalismo do Reno, é um modelo econômico no qual a propriedade das empresas pertence não somente aos acionistas, mas também aos representantes dos funcionários 

O milésimo superior (0,1%) se beneficia de um crescimento de seu patrimônio de 6% ao ano, enquanto a progressão do patrimônio médio é de apenas 2% ao ano.

O fundo soberano da Noruega em 2013 era de €700 bilhões, o maior de todos os países.

A dinâmica da distribuição mundial do capital é um processo ao mesmo tempo econômico, político e militar.






sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Brasil está negativado?


Rômulo Vilela
O governo federal através da Presidência da República – Casa Civil publicou a LEI n.13.115 com data de 20/04/2015, que trata do orçamento para 2015.
Sem querer entrar nas discussões que se seguiram com o Congresso Nacional e com as Agências de Classificação de Riscos, vamos analisar de maneira simples e sem economês qual a situação real do nosso país.
Vamos usar uma linguagem parecida com a que nós, pobres mortais usamos para elaborar nossos orçamentos domésticos.
Estas três tabelas que elaborei baseado na documentação oficial, que pode ser obtida pela internet no link acima, resume o que vamos observar e comentar. Atenção, não se assuste com o tamanho dos números, pois são bilhões e trilhões de reais. Apesar de serem verdadeiros tirados do documento oficial do governo eles não são importantes em si nesta análise e sim os seus significados e suas relações.


Receitas correntes
824.934.887.430
37,784%
Receitas de Capital
1.358.351.705.094
62,216%
Total
2.183.286.582.524
100%
Despesas Correntes
750.855.517.229
34,391%
Despesas de Capital
1.290.651.090.480
59,115%
Despesas com INSS
103.715.251.273
4,75%
Reservas
36.064.733.542
1,651%
Total
2.183.286.582.524
100%


Este resumo do orçamento é muito simples: um conjunto de receitas, o dinheiro que deverá ser arrecadado pelo governo e um conjunto de despesas que acontecerão ao longo do ano.
As receitas são divididas em duas naturezas: as receitas correntes e as receitas de capital.
As Receitas Correntes,  são na sua maioria os impostos arrecadados pelo governo. Neste caso poderíamos comparar com os salários que recebemos todo mês, só que aqui  o valor é o total anual, os 12 salários acrescidos do décimo terceiro salário, isto é a soma de todos os salários que recebemos durante um ano. Pode ser acrescentado aquele aluguel que você recebe de um apartamento que você possui.
As Receitas de Capital, é o dinheiro que o governo pede emprestado para fechar as contas. Imagine que você recebe líquido todo mês R$ 4.000,00 e mais R$ 1.000,00 do aluguel do apartamento, porém todo mês você precisa pedir emprestado ao banco mais R$ 7.000,00 para fechar suas contas de R$ 12.000,00 mensal. Já dá para você notar que essa situação é muito complicada, mas é assim que o governo brasileiro vive.
Como o governo gasta tanto ao ponto de viver pendurado rolando o empréstimo? 
Vamos entender as despesas do governo. As despesas são de quatro naturezas: despesas correntes, despesas de capital, despesas com o INSS e reservas.
Vamos começar pelas Reservas. Estas reservas são o tal do Superavit Primário que tem dado tanta confusão, pois é o dinheiro que o governo teria que poupar para aos poucos ir saindo do buraco de ficar rolando indefinidamente a dívida. Se este dinheiro não for economizado como aconteceu no ano passado em 2014, o governo terá que aumentar as Receitas de Capital (pedir mais dinheiro emprestado), o que faz o buraco aumentar ainda mais. Comparando: se você tem uma dívida com o cartão de R$15.000,00 e paga o mínimo de R$1.500,00 e compra mais R$ 5.000,00, no próximo mês você terá uma dívida ainda maior e assim vai aumentando o buraco, até quando o banco desconfiar que você vai terminar dando o calote daí vai bloquear o seu cartão..  
Despesas com INSS: esta despesa decorre do fato de que o sistema de previdência brasileiro não consegue arrecadar dinheiro suficiente para pagar as aposentadorias que já foram concedidas. Para não deixar os velhinhos na mão, o governo paga a diferença que pelo visto a cada ano vem crescendo. Por enquanto representa menos de 5% das despesas totais, porém representa 12,57% da Receita Corrente. É preocupante porque vem crescendo a cada ano. É este valor que o governo quer transferir para o povo através da recriação da CPMF.
Despesas de Capital: aqui está o buraco. Este valor é o principal da divida que o governo tem que rolar a cada ano porque não consegue fechar as contas. Aqui a comparação é com quem fica pagando o mínimo do cartão de crédito, rola o mês mas a dívida continua lá. Aqui está a origem de termos uma taxa de juros tão alta no Brasil. Para que o governo continue pedindo emprestado numa situação tão difícil como esta, os bancos só emprestam se ganharem muito pois o risco de calote é grande. Eu fico preocupado pois este dinheiro que os bancos emprestam ao governo, vem da minha e da sua poupança ou aplicação de renda fixa. No final das contas quem está emprestando ao governo sou eu e você. Ele, o governo, nos leva os impostos e ainda toma emprestado o pouquinho que conseguimos poupar. Claro que o grosso deste dinheiro vem de grandes investidores nacionais e internacionais, mas nossa poupancinha também tá no jogo. Se o governo não conseguir honrar esta dívida, estaremos ferrados. Lembra do tempo de Collor? Foi isso que ele fez, congelou nosso dinheirinho. Lembra da Grécia a poucos meses? limitou as retiradas bancária diárias. Os gregos tinham dinheiro mas não podiam tirar tudo, só um valor pequeno definido pelo governo, é bronca. 
Veja a situação se resolvermos não emprestar mais ao governo, todo mundo retirar as aplicações. Imagine se todos os teus credores resolverem cobrar tudo ao mesmo tempo: aquele valor enorme do cartão que você só paga o minimo, o valor do cheque especial, as prestações do carro que faltam, a mulher que vende ouro etc. Imagine se no dia primeiro do próximo mês todo mundo quiser receber o total que você deve?
Despesas Correntes: estas despesas representam o que o governo paga de salários para os funcionários públicos, aos políticos, os juros e encargos da dívida e outras despesas como os alugueis das limousines e diárias de hotel por exemplo.
Despesas Correntes
750.855.517.229

Pessoal e Encargos
139.871.521.873
18,62%
Juros e Encargos da Divida
225.233.665.644
29,99%
Outras Despesas
385.750.329.712
51,39%


Quase trinta por cento das despesa correntes são para pagamento de juros e encargos da dívida. Aqui é o minimo do cartão que você paga todo mês. É também, por exemplo, o valor que você paga de juros no boleto do condomínio atrasado, e os juros do cheque especial.
Tirando estas despesas com juros e encargos, fica o que o governo gasta com o funcionamento do Estado. Veja que representa apenas 24% da Receita Total. Se tiver que cortar gastos só pode se for aqui. Só que aqui, em comparação com seu orçamento, está a feira, a gasolina, a escola dos filhos etc. Como cortar isso? E ainda se fosse possível é um valor pequeno se comparado com as despesas de capital. Vejamos:


Despesas de Capital
1.290.651.090.480

Investimentos
68.394.063.240
5,3%
Inversões Financeiras
92.945.916.512
7,2%
Amortização da Dívida
1.131.311.110.728
87,5%


O valor de 5,3% das Despesas de Capital, representa tudo o que o pais investe em geração de riqueza como as grandes obras de construção por exemplo, (cuidado com a operação lava-a-jato). Pois é, além de o dinheiro para investimento ser pouco, ainda existem desvios e corrupção.
As inversões financeiras são despesas do governo com aquisição de bens de capital como por exemplo imóveis e de títulos de entidades de qualquer espécie como ações de entidades privadas, para muitas vezes ajudar empresas em dificuldades.
Amortização da Dívida: 87,5% de todas as despesas de capital representa o pagamento e/ou refinanciamento do principal e da atualização monetária ou cambial da dívida pública interna e externa. Veja que este valor vai representar 51,82% de todas as despesas. É como se você gastasse metade de seus ganhos só para rolar suas dívidas, sem pagar o principal que você deve.
A situação é verdadeiramente difícil. A saída é penosa e lenta. Não existe mágica, o governo precisa diminuir as despesas correntes para lentamente ir reduzindo as despesas de capital para que os juros possam cair e daí o país crescer e com isso poder arrecadar mais e melhor. Aumentar impostos só irá sufocar ainda mais a nossa já combalida economia. A farra com nosso dinheiro tem que acabar.


Recife  outubro de 2015